"Desde muito cedo sempre fui muito popular. Mas ao contrário do que pensam, não vejo nada positivo nisso. Meus relacionamentos são um fracasso e todos tem uma impressão errada de mim: veem apenas a fachada e não sabem a solidão q sinto. Como posso mudar isso?"
Popularidade só tem utilidade quando dela você faz algo em proveito de alguém, e isso pode incluir você. Mas veja: incluir significa "também você", e nao "somente você". Usar a popularidade para a satisfação do ego é construir a solidão do futuro.
Com as informações que você forneceu, é impossível dizer como você pode mudar isso, pois isso depende da causa, e a causa pode ser uma obsessão, um traço de caráter que incomoda a pessoa do sexo oposto, a comum insegurança da pouca idade (se for o caso), a soma numérica da sua data de nascimento (caso seja 7) versus sua postura diante da busca espiritual, histórico cármico e até mesmo comportamento incompatível com maiores chances de se relacionar bem com os "amores" (o famigerado "sou assim e não mudo" que impede tanta gente de ser feliz).
Portanto, sem adentrar mais especificamente em seu campo, o máximo que posso fazer é especular sobre o genérico, sem que o genérico seja necessariamente a única forma de envolver seu caso - que não sei no que se baseia dentre os itens citados no parágrafo anterior.
Somos populares por vários motivos. Vou me ater a dois, pois podem ser grandes aliados ou grandes inimigos:
1) Beleza física
2) Simpatia.
Existem outros motivos, mas repito: vou me ater a comentários sobre apenas estes dois.
Se uma popularidade vem da beleza física e nada mais, sinal de perigo ou oportunidade de conquista.
Se você usar essa beleza física de forma passiva (ficar esperando que alguém apareça), vai só perder seu tempo, porque a luz atrai qualquer tipo de mariposa (inclusive aquelas interessadas em visitar o maior número de lâmpadas que puder).
Se você usar a beleza física de forma passiva e ainda por cima seletiva, aí você continua atraindo qualquer pessoa, mas impõe um "teste" (por assim dizer) para que permaneçam. Provavelmente todas as pessoas "testadas" vão tomar bomba, porque além de grande parte de nós perceber quando somos "testados", relacionamento não se racionaliza e nem se testa, apenas se vive a experiência se permitindo mais sentimento, mais olhar, mais aceitação do outro, mais busca pela descoberta interior - e mais entrega se o cenário nos deixar confortáveis - com uma certa dose de razão (a necessária para ninguém entrar em uma fria - mas jamais a exagerada paranóia de querer encontrar o ser perfeito) e menos questionário lógico.
Se você usa a beleza física de forma passiva mas sem nenhuma seleção, igualmente se vinculará a qualquer pessoa sem necessariamente encontrar nelas noções de responsabilidade mais profundas.
Mas se você usar a beleza física de forma ativa (você buscar a pessoa sem ficar esperando que ela te encontre - e deixar isso perceptível a quem te interessar), suas chances de encontrar alguém serão maiores, porque você já elimina as mariposas na sua busca ativa e direciona sua atenção para o que realmente te acrescenta como pessoa - ou seja, é preciso que você direcione a atenção desta forma (no sentido de conhecer a pessoa interiormente), porque buscar ativamente e escolher uma pessoa só pela beleza física dela, é tolice.
Mas mesmo usando a beleza física com uma busca "ativa" e com o critério de perceber o que há de melhor no inteior do outro, ideal seria se nos protegêssemos de alguns possíveis alguns erros de percurso: Procurar o príncipe encantado na balada, no bar, na pista de dança, no show ou em lugares onde as pessoas vão na esmagadora maioria das vezes para "ficar", é mera tentativa frustrada. Porque as chances de encontrar - embora existam - são mínimas.
"Ah, mas minha amiga encontrou e foi feliz" faz parte do conjunto de ocorrências conhecidas como exceção.
Encontros de família, ou entre pessoas da mesma congregação religiosa, ou em museus, teatros, casas de cultura, obras ou atividades sociais em geral, ou até em contextos onde você conviva mais intensamente com as pessoas - profissão, um trabalho voluntário, uma ação social que te dê maior posição de evidência, etc, são exemplos de onde as chances de encontrar pessoas "reais" (que não colocam máscaras como nas baladas e que não estão lá necessariamente para "ficar") são maiores.
Se sua popularidade vem da simpatia, aí algumas coisas se alteram, embora as considerações anteriores continuem válidas em alguns casos. Se você é uma pessoa bonita e simpática, passa a ser obrigação tornar-se uma pessoa seletiva, embora não necessariamente ativa na busca, pois a simpatia já faz esse papel muito bem, ou seja, mesmo não sendo uma pessoa ativa na busca, a simpatia faz com que você tenha iniciativas que de outra forma não teria. O tratar bem, o sorrir mais, o colaborar mais com o outro, o "ser uma pessoa divertida", o "rir" de situações em vez de torná-las constrangedoras e pesadas, o "silêncio" para não ofender nem ridicularizar, são elementos inerentes à simpatia.
Mas beleza + simpatia exigem o filtro do "bom senso". Porque sua facilidade de atração será muito maior, é preciso ter uma mentalidade muito madura para identificar os momentos de dizer "sim" e os momentos de dizer "não", as pessoas que te trazem algo verdadeiramente positivo e profundo (valores), ou aquelas que trazem apenas a satisfação dos desejos (já dizia Epícuro: "O desejo é a causa de todos os males"), e a capacidade de manter ou afastar as pessoas de sua proximidade usando a cordialidade sempre - e eventualmente até um pouco de violência (no sentido não literal).
Se sua popularidade vem de uma simpatia sem que a beleza física exista, curiosamente, é o melhor de todos os cenários. Se você é uma pessoa fisicamente "comum", ou seja, não é uma pessoa "super bonita" mas tem uma pitada de charme, provavelmente vai encontrar (e manter ao seu redor) somente pessoas que tenham maior sensibilidade para perceber o que há de bom dentro de você - e aí, se não houver nada de bom aí dentro, certamente não vai atrair e manter ninguém. Perceba a importância básica da edificação íntima.
Muitas pessoas podem por exemplo me atrair pela beleza física ou pela simpatia ou por ambos, mas se o conteúdo desta pessoa não for compatível com o que eu considero de bom, de valoroso, de algo que eu goste, a atração acaba. Um corpo nu numa cama por si só é apenas um pedaço de carne. Não estou dizendo que sexo (por exemplo) numa relação não tenha sua importância. Tem. É a "liga" que consolida uma união, repositório energético que equilibra. Mas embora "sexo" seja importante e "corpo" faça alguma diferença, vale mais é o que a gente aprende com a pessoa "fora da cama".
Algumas conclusões:
- O "caminho do meio" é sempre melhor que qualquer atitude extremista (os flexíveis são os maiores conquistadores da Terra - ainda que não conquistem tudo o que querem, pois é da lei da vida que nunca queiramos só o que quisermos, mas sempre um pouco mais, para termos o que precisamos ter);
- Beleza física é uma prova (mais do que mérito) cujo objetivo é passar (provas existem para nos testar e sermos ou não aprovados) e evoluir mais um degrau. Quem a tem portanto, precisa dela fazer bom uso;
- Beleza conta, mas sem simpatia, é só obra de arte para se admirar à distância;
- Beleza com simpatia não dispensa o cuidado do bom senso, o limite do diálogo e - em último caso - a violência da corrigenda (violência no sentido não literal);
- Qualquer fator exterior, por mais que seja importante, é inútil se não existe algo de bom dentro de nós mesmos;
- Em qualquer situação precisamos construir valores interiores que atraiam as pessoas com as quais idealizamos nos relacionar (em qualquer nível, até mesmo o de amizade). Ninguém suporta por muito tempo (à exceção da família, que tem o papel de nos dar todo o suporte) uma pessoa que não construiu nada de bom em si mesma. Preciso admirar alguma coisa em uma pessoa para amá-la verdadeiramente;
- Buscar segurança em "diversões passageiras" é tolice que só se aprende vivendo, e se constata com o sofrimento abençoado - porque nos ensina;
- Uma atitude passiva diante da vida sentimental é a melhor e mais eficaz forma de fazer com que nada aconteça;
- Nós somos os engenheiros do nosso projeto de vida sentimental. Nós o construímos. E como qualquer construção, exige trabalho ativo principalmente em nós. Fazer e executar um projeto exige disciplina (nesta caso de valores e princípios) e mãos à obra (neste caso não ficar atuando como expectador da vida, e sim protagonista dela).
Gostaria de parafrasear Gandhi: "Seja a mudança que você quer ver no mundo". Você poderá até não conseguir tudo o que desejou, mas certamente, conseguirá mais do que se optar por se deixar levar sempre pela correnteza.
Por fim, há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Leis imutáveis. Logo, planeje bem o alvo antes de atirar a sua flexa, pense bem no que sai da sua boca, e fique atento às oportunidades. A vida não espera, e o mundo não para de girar. "Ah, mas agora que eu quero, ele não quer mais". Definitivamente, ainda que não concordemos ou teimosamente não aceitemos, neste tipo de situação a responsabilidade é nossa.
Autor: Antony Valentim