Às vezes a vida nos coloca diante de situações que nos magoam muito, causadas por pessoas que atuam como protagonistas de ofensas, rupturas e até mesmo afrontas que causam em nós desilusões profundas e aquele sentimento de "desaforo", como se fosse uma injustiça o que passamos, e pior: como se a partir daquele momento a outra pessoa passasse a merecer, automaticamente, toda uma sorte de infortúnios.
Para piorar, quando vamos buscar ajuda em meio ao aconchego de amigos (que são parciais no claro sentido de nos dizerem o que queremos ouvir), ouvimos com vigor que a pessoa que causou aquelas dores é canalha, sem-vergonha, mentecapto ou que só serviu para destruir nossos sonhos, quando não, que era um verdadeiro atraso em nossa vida.
Mas o fato é que essa visão não tem nada a ver com espiritualidade superior e menos ainda com auxílio verdadeiro.
Ninguém apaga incêndio com petróleo.
Obviamente que não vamos defender aqueles que magoaram nossos amigos, e menos ainda nos voltar contra as pessoas que nos são caras e que vem a nós buscar o auxílio que jamais devemos lhe negar. Não há problema algum em apoiar a verdade sustentada por nossos amigos, o problema está em nos tornarmos agentes que ajudam a enxovalhar o ofensor.
Pode ser um mecanismo psicológico, pode ser uma forma de acionar um gatilho mental, mas de modo algum "colocar lenha na fogueira" é um posicionamento espiritualmente correto.
Primeiro, porque vivemos em um mundo de provas e expiações, e somos testados o tempo todo. Os testes não vêm pelo ar, nem chegam através de vibrações. Os testes vêm através de pessoas que nos desafiam. Pessoas que têm sua personalidade própria e que são a soma das experiências que viveram, sempre por escolhas delas mesmas, nessa ou em outras vidas.
Segundo, porque só existem três tipos de pessoas que se apresentam diante de nós nessa vida: os alunos que aprenderão algo conosco (seja pelo amor ou pela dor), os professores que nos ensinarão coisas (também pelo amor ou pela dor) e os colegas (companheiros de jornada em maior ou menor parte do caminho) que nos ajudarão a aprender ou a ensinar coisas a outros.
Claro que existem os canalhas, os cafajestes, os absurdamente perversos e malignos de alma que propositadamente espalham a morte da esperança pelos corações por onde passam. Mas até eles nos ensinam, até eles (quando não "principalmente eles") são professores. E no dia que se encontrarem com alguém que lhes interrompa a marcha destruidora, fazendo-os sofrer, se tornarão alunos a aprender que não podem semear abrolhos e colherem figos. Se com eles há mais alguém que lhes compartilhe o ânimo perverso, serão colegas no aprendizado regenerador.
Pessoas não são atraso na vida de ninguém, não são entrave no caminho de ninguém, não são má sorte na existência de ninguém. Pessoas são simplesmente alunos, professores ou colegas na grande escola que é o mundo.
Não encarnamos a passeio: se nascemos neste mundo de provas e expiações, é porque precisamos ser testados, ou cobrados a pagar nossos erros de outras vidas. Os agentes de aprendizado ou de testes, são pessoas. Aprendemos a nos tornar melhores, com as pessoas, sejam elas boas ou más: são instrumentos de evolução capazes de remexer tudo o que nosso ego diz que somos, para entendermos o que nosso espírito verdadeiramente ressoa.
Aqueles que buscarem de verdade ajudar a quem quer que seja, se dotados dos mínimos princípios de espiritualidade superior, jamais classificarão alguém à conta de atraso de vida na existência de quem quer que seja. Quem pensa assim, são os que vibram nas sintonias mais baixas, ainda distantes de compreender o que é espiritualidade superior e muito ligados ainda nas querelas tolas do mundo, nos queixumes ínfimos que a nada levarão e que de maneira alguma ajudarão de fato.
Você é seu único atraso de vida quando, mesmo sabendo que uma escolha tem todas as possibilidades de dar errado, ainda assim insiste. Você é o único capaz de proporcionar atraso de vida à sua vida quando, ignorando as verdades da vida espiritualizada, ultrapassa o papel de defender um e começa a ofender o outro.
Nenhuma dessas coisas se caracterizam como simples opiniões pessoais minhas. São realidades espirituais muito efetivas e sérias. Afinal de contas, o Exemplo Vivo de Espiritualidade Superior o Próprio Cristo, foi quem ensinou que devemos amar a nossos inimigos. Digo mais: foi o que Ele FEZ, do alto de uma cruz, pedindo ao Pai que perdoasse aqueles que simplesmente estavam cometendo um erro. Emmanuel, mentor espiritual de Chico Xavier, escreve:
"Amigos e Inimigos"
O amigo é uma bênção. O inimigo, entretanto, é também um auxílio, se nos dispomos a aproveitá-lo.
O companheiro enxerga os nossos acertos, estimulando-nos na construção do melhor de que sejamos capazes. O adversário identifica os nossos erros, impelindo-nos a suprimir a parte menos desejável de nosso vida.
O amigo se rejubila conosco, diante de pequeninos trechos de tarefas executada. O inimigo nos aponta a extensão da obra que nos compete realizar.
O companheiro nos dá força. O adversário nos mede a resistência.
Precisamos do amigo que nos encoraja e do inimigo que nos observa.
Isso porque o amigo traz a cooperação e o inimigo forma o teste.
Qualquer servidor de consciência tranquila se regozija com o amparo do companheiro, mas deve igualmente honrar-se com a crítica do adversário que o ajuda na solução dos problemas de reajuste.
Jesus foi decisivo nos recomendando: “Amai os vossos inimigos”.
Saibamos agradecer a quem nos corrige as falhas [inclusive as do ego exacerbado que às vezes se irrita quando ouvimos o que não queremos], guardando-nos o passo em caminho melhor".
Para concluir, creio que eu deva compartilhar 10 conselhos que você recebeu no plano espiritual antes de chegar ao mundo:
1. Você receberá um corpo. Poderá amá-lo ou odiá-lo, mas ele será seu todo o tempo.
2. Você aprenderá lições. Você está matriculado numa escola informal de tempo integral chamada Vida. A cada dia, terá oportunidade de aprender lições. Você poderá amá-las ou considerá-las idiotas e irrelevantes. Mas elas não deixarão de ser ministradas, goste você ou não.
3. Não há erros, apenas lições. O crescimento é um processo de ensaio e erro, de experimentação. Os experimentos ‘mal sucedidos’ são parte do processo, assim como experimentos que, em última análise, funcionam.
4. Cada lição é repetida até ser aprendida. Ela será apresentada a você sob várias formas. Quando você a tiver aprendido, aquela lição termina, e você passará para a próxima.
5. Aprender lições é uma tarefa sem fim. Não há nenhuma parte da vida que não contenha lições. Se você está vivo, há lições a serem aprendidas e ensinadas.
6. ‘Lá’ só será melhor que ‘aqui’ quando o seu ‘lá’ se tornar um ‘aqui’. Você simplesmente terá um outro ‘lá’ que novamente parecerá melhor que ‘aqui’.
7. Os outros são apenas espelhos de você. Você não pode amar ou odiar alguma coisa em outra pessoa, a menos que ela reflita algo que você ame ou deteste em você mesmo.
8. O que você faz da sua vida é problema seu. Você tem todas as ferramentas e recursos de que precisa. O que você faz com eles não é da conta de ninguém. A escolha é sua. Mas se pedir conselhos a alguém, esteja preparado para ouvir não apenas o que você quer.
9. As respostas para as questões da vida estão dentro de você. Você só precisa olhar, ouvir e confiar. Vez por outra, a providência divina lhe permitirá ter acesso a pessoas que podem ajudá-lo a achar essas respostas, mas atenção: essas pessoas não terão as respostas prontas, elas terão apenas a habilidade de ajudá-lo a encontrar as respostas que estão em você mesmo.
10. Você se esquecerá de tudo isso... e ainda assim, você se lembrará, sua alma se lembrará.
Pense nisso e comece a olhar para as pessoas (que lhe proporcionaram amor ou dor) como quem vê instrumentos que ajudam em seu aperfeiçoamento como pessoa, sejam eles alunos a aprender as lições que você ensinar, professores a ensinar as lições que você precisa aprender, ou simplesmente colegas de aprendizado a lhe sustentar e, se forem espertos, aprender também o aprendizado imerso nas lições que você for confrontado a ser aprovado.
Paz e Prosperidade!
Autor: Antony Valentim